12 de set. de 2012

Primeiro capitulo!

Como prometido, aqui vai o Prólogo e o primeiro capitulo.


Prólogo.
Sentia as areias em meus braços enquanto olhava para o céu. Meu pai fazia o almoço e tudo o que eu queria era ficar deitada na praia, tentando esquecer que a pesca não tinha sido tão boa naquele dia. Superaríamos com certeza.
O sol ofuscava minhas vistas, mas não muito, então pude ver algo plainando no céu. Uma silhueta muito grande, com asas enormes. Pensei por um instante que fosse um pássaro, mas algo nele estava estranho. Percebi que tinha quatro patas, que se mexiam no ar juntamente com suas asas. Aquilo com certeza não era um pássaro.
Levantei-me para observar melhor, mas o misterioso animal havia desaparecido.

A luz que entrava pela pequena janela encontrava meus olhos ainda sonolentos. Sentia-me fraca e completamente perdida. Onde eu estava?
Esfreguei meus olhos tentando me lembrar do que havia acontecido comigo. Um grande branco preenchia minha mente. Levantei-me assustada e me deparei com as grades que me prendiam. Uma sensação estranha percorreu meu corpo. Porque eu estava presa? Olhei em volta. Era um lugar nada acolhedor, o piso em cimento, assim como as paredes, que ainda estavam manchadas com a tinta velha. A parede da janela continha diversas manchas de umidade e a cama, que um dia também foi branca, trazia um fino colchão rasgado. Tudo parecia estar enferrujado e com mofo.
Não me lembro de ter dormido aqui... Não me lembro de nada...
Olhei para o lado e vi um prato de comida. Não, provavelmente não podia chamar aquilo de comida. Embrulhou-me o estomago. Tentei não olhar novamente para aquilo.
O enjoo aumentou quando respirei aquele conjunto de odores. Odeio coisas úmidas, e aquele cheiro forte lembrava-me constantemente disso. Era uma mistura de mofo, comida velha, terra, mato e roupas sujas.
Encostei minhas costas na parede. Esfreguei meus olhos mais uma vez, tentando imaginar que tudo aquilo era um sonho, e que logo, logo eu acordaria e finalmente entenderia o que estava acontecendo. Mas, ao abri-los novamente, tive vontade de chorar.
Meu Deus, quem sou eu?
Respirei fundo, engoli o choro e voltei a observar o lugar. Havia diversas outras celas, pude observar uma em frente a minha, onde se encontrava um homem mal vestido, com os olhos semicerrados, encostado naquilo que chamavam de cama.
O homem parecia calmo, quieto e perturbado ao mesmo tempo. Seus cabelos não tão grisalhos, compridos e mal cuidados apoiavam em seu ombro. Provavelmente ele sabia mais coisas do que eu. Talvez ele pudesse me explicar o motivo de tudo isso. Não custava tentar...
- Senhor – chamei sua atenção – desculpe incomodar, mas pode-me dizer onde estamos? – perguntei.
Ele levantou um pouco a cabeça, olhou para mim com os olhos ainda se fechando e voltou a abaixá-la.
- Presos – respondeu indiferente.
Aproximei-me um pouco mais da grade. Precisava de mais do que isso.
- Por quê? – eu o olhava atentamente.
- Você? Eu não sei, mas eu roubei uma coisa – disse ainda encostado, sem se importar com a minha preocupação.
Senti um aperto no coração, eu estava completamente perdida, esquecida e abandonada. Não fazia ideia de quem era o homem cabeludo com quem tentava conversar e sempre que eu pensava em qualquer coisa relacionada a mim, nada passava à minha mente.
- Eu não me lembro de nada – confessei.
- Então provavelmente estava envolvida com drogas... – ele finalmente olhou para mim, com um sorriso escondido.
- Eu não me drogo.
- Você não se lembra – ele riu.
- Não, eu realmente não me drogo – retruquei.
Ele virou novamente o rosto, voltando como estava inicialmente. Apático.
- Pois é... Eu não posso te ajudar – disse.
Sentei-me ao lado da grade enferrujada que me prendia, encostando minha cabeça na parede.
- Qual seu nome? – perguntei.
- James.
Respirei fundo e tentei novamente.
- James, eu preciso sair daqui.
Ele levantou, rindo, segurou as grades com as duas mãos e olhou firme para mim.
- Faça-me rir! É impossível, gracinha. Você não vai conseguir sair daqui, compreende? – Ele me olhou atentamente, pensando em algo. – Principalmente porque você deve ser perigosa, a cela que você está é reservada para os piores – ele sorriu maliciosamente.
- Alguém deve ter me confundido – afirmei.
- Não, ninguém se confunde aqui – ele colocou o rosto entre as grades. – Conte-me a verdade. Qual seu poder?
Seus olhos verdes miravam os meus de um modo semelhante ao de uma pessoa louca e maníaca. Estavam fixos, curiosos e com uma esperança da qual não entendi.
- Não tenho nenhum poder, do que você está falando? – disse ainda mais perdida do que nunca.
- Não se faça de desentendida, não pode ter se esquecido do próprio poder – gritou.
Ele gesticulava demais para uma pessoa normal. Era estranho observá-lo, ora ele estava quieto demais, ora elétrico demais.
- Eu não estou te entendendo... Falo sério – tentei convencê-lo.
- Ah... Quer saber? Tanto faz! – gesticulou jogando os braços para cima e arregalando os olhos, se virando para sentar novamente na posição inicial.
Que cara louco...
Cheguei a me perguntar se realmente tinha sido uma boa ideia conversar com ele. Mas, sinceramente, eu não tinha outra pessoa, e precisava de respostas.
- O que você roubou? – perguntei baixinho.
- A mente de uma mulher.
- O quê?! – gritei.
- Olhe só – ele se virou e veio andando ajoelhado até a grade e olhou para mim – você não vai encontrar ninguém normal aqui, viu. Todos nós estamos aqui por um motivo, um motivo que ninguém sabe, mas todo mundo quer saber, alguma coisa estranha, porque é o que nós somos, tá acompanhando? – ele pausou. – É, pela sua cara você não tá acompanhando nada.
Eu fiquei parada, olhando para ele, não sabia o que dizer. Fiquei uns dois segundos tentando digerir o que ele falou, e quando eu vi que não adiantava, abri o jogo.
- Filho, eu não entendi nada.
Ele bufou, virou os olhos e sentou-se no chão.
- É o seguinte. Você precisa acelerar o entendimento, compreendeu? – balancei a cabeça, mesmo não entendendo bulhufas. – Existem pessoas, como nós, que são perigosas, poderosas, nós conseguimos fazer coisas, você não, porque nem sabe o que faz, mas todo aqui dentro, sim.
Caramba, eu vou bater nesse cara. Será que se eu passar 50 anos aqui ele consegue me explicar?
- James, pelo amor de Deus, me explica direito. Eu não estou entendendo nada. O que significa isso? Que lugar é esse? Quem manda aqui? Quem me prendeu? E Por que eu estou presa?
- Primeiro você precisa se acalmar. Segundo, eu já esqueci as últimas perguntas que você fez...
 Respirei fundo. Acalmei-me... E voltei a falar, pausadamente.
- Quem é perigoso?
- Todos nós, todos que estão aqui dentro – ele levantou. – Esse lugar foi construído para desativar nossos poderes, aqui dentro parecemos humanos. É horrível – ele dizia gesticulando muito.
- Quem construiu? – perguntei.
Ele se abaixou novamente, olhou para os lados e sussurrou.
- Patrick.
- Quem é ele? – olhei dentro de seus olhos, feliz por estar conseguindo algumas respostas.
- Ele tem um plano. Ele usa a todos nós. Ele quer os nossos poderes. Você tem sorte de não saber seu poder, assim quando ele perguntar não estará mentindo e não será castigada por isso. Sim, ele detecta a mentira, não dá pra mentir, acredite, eu tentei, não estou mentindo, não minto mais, acho que aprendi a lição. Verdade...
- Se acalme... Não consigo acompanhar suas palavras... – coloquei as mãos na cabeça, entre meus cabelos castanhos, tentando organizar meus pensamentos de uma forma que eu pudesse entendê-lo.
- Às vezes eu falo demais – ele abaixou a cabeça e ficou olhando para as mãos.
Ele era extremamente perturbado. Mas alguma coisa me dizia que no fundo, James tinha uma mente brilhante.
- Há quanto tempo você está aqui? – perguntei um pouco com medo da resposta.
- Quatro anos e três dias. Amanha faz quatro dias, e depois cinco, e depois seis... Compreende?
Balancei a cabeça. Não era possível. Eu estava anestesiada, não me conformava com aquilo. James não parecia alguém que deveria ficar tanto tempo preso. Aquele lugar me assustava, principalmente porque eu não entendia o que acontecia ali, eu não sabia de nada. E tudo que eu descobria, me assustava.
- Você disse que roubou uma mente? Como isso é possível? – eu não queria acreditar que ele era louco. Não queria acreditar que aquilo não era uma cadeia e sim um hospício, pois se esse fosse o caso, eu estaria tão louca como ele... e eu não me sinto assim, por mais que eu não soubesse quem eu era, ou quem sou no momento.
Aqueles olhos verdes me encararam. James, então se aproximou ainda mais da grade, e sussurrou.
- Abra a sua imaginação, mas não abra muito, porque alguém pode entrar nela. A mente, os sonhos... A distração. E BUM! – me assustei com o grito. – Lá estou eu.
- Você consegue entrar na mente das pessoas? – ele balançou a cabeça. – Que incrível.
Para mim, tudo o que ele falava parecia impossível, mas a cada segundo eu me convencia a acreditar. Eu não tinha ideia de nada do que acontecia e nem sabia quem eu realmente era. Então tudo o que estava sendo dito podia com certeza ser verdade. E, além disso, se eu não acreditasse nele, que estava na mesma situação que eu, em quem eu acreditaria? Talvez o melhor fosse aproveitar de toda essa loucura para descobrir quem eu sou.
- Então talvez isso seja de ajuda. Pode ler minha mente e me contar quem eu sou, e como vim parar aqui? – perguntei.
James olhou entre as grades.
- Se você não sabe quem é... Como eu vou saber? – ele levantou uma sobrancelha e esbugalhou o olho que estava fixo nos meus. – Brincadeira! Eu posso sim.
- Faça isso então! – disse animada.
- Você não escutou nada do que eu disse? – ele balançou a cabeça. – Meu poder não funciona aqui! Castelo e poder não combinam. Nada de poder no castelo assombrado.
- O quê? – Não acredito que minha única esperança tinha sido jogada fora. – Droga! E como eu faço para sair daqui?
- Não faz! – ele riu.
- Não! Eu preciso fazer! – gritei.
- Relaxa filha, depois do segundo ano esse desespero diminui.
- Você não está entendendo! Eu não vou ficar aqui nem mais um segundo! – levantei e comecei a gritar. – Eu quero sair! Eu exijo sair! Por que estou aqui? Alguém! Ninguém escuta, não?
Fiquei alguns minutos gritando, mas ninguém se manifestou. Sentei-me novamente, sentindo-me inútil.
- Que droga! – resmunguei.
- É... Pois é...
Respirei fundo, me acalmando, me conformando.
Olhei para James.
Era engraçado olhar para ele. Ele me lembrava alguém muito conhecido, talvez de algum filme. Mas quem será?
Olhei para James atentamente, prestando atenção na curvatura de seu rosto, no cabelo, no modo de se vestir... Eu conhecia aquele jeito...
Ah lembrei! Ele parecia o Capitão Jack Sparrow de Piratas do Caribe. Realmente muito parecido. Me lembro de assistir o filme quando era mais nova...
Fiquei feliz por ter lembrado alguma coisa. Mas, por que será que eu me lembro apenas dessas coisas banais, como meus filmes favoritos, o rosto de artistas famosos ou coisas parecidas e nem passa pela minha cabeça o meu próprio nome? Isso me deixava extremamente desconfiada. Eu não teria perdido só as informações importantes do nada. Tem alguma coisa podre por trás disso. Mas não era hora de pensar nesse assunto. Por isso resolvi compartilhar minha opinião com James.
- Você tem cara de pirata do século XIX – eu ri e apoiei minha cabeça na parede.
- E eu sou.
Engasguei-me. Olhei para ele esperando que ele desmentisse.
- O quê? Eu estava brincando... É brincadeira sua também, não é? – perguntei.
- Não, tá vendo aquela mulher ali?
Ele apontou para uma cela ali perto, havia nela uma mulher toda de preto e com a pele bem pálida. Seus olhos fundos e escuros, circulados por uma grande olheira roxa. Ela mal se mexia.
- Sim, quem é ela?
- Ela tem 1052 anos. O poder dela é nunca envelhecer, e ela pode passar isso para as pessoas se quiser. A cada três anos ela me procura e passa um pouco desse poder para mim, e eu nunca morro. Nem envelheço tanto.
- O quê? Espere aí! Ela passa o poder dela pra você?
- Sim.
- E ela simplesmente quer te procurar para isso?
- Claro que não – ele olhou em meus olhos, com um certo sorriso nos lábios. – De quem você acha que eu roubei a mente?
Esbugalhei os olhos.
Ele percebeu que eu precisava de uma explicação um pouquinho melhor do que aquela, e começou a falar.
- Ela vivia livremente quando eu a conheci. Naquele dia ela disse que queria ver o meu navio, e que sempre quis saber como navegar. Pediu para eu ensiná-la. Ela tinha uma fama ruim, então eu recusei, é claro. Só que ela ficou extremamente irritada com isso, e mandou sua criatura me atacar. Eu me protegi e aproveitei para entrar na mente dela. E aí... Bom aí ela literalmente se ferrou. Na mente dela eu pude aprender uma porção de coisas. Inclusive que ela não morria. Então eu a obriguei a ficar conectada a mim pelo resto da eternidade, e a cada três anos ela simplesmente me procura, me entrega um pouquinho de seu poder e depois vai embora. E assim vamos vivendo. Mas depois a gente acabou preso nesse castelo. Disseram que eu estava sendo preso por roubar a mente dela, mas até hoje eu não sei se isso é verdade. Eu desconfio de algumas coisas. Por exemplo, se eu fui preso por roubar a mente dela, ela foi presa por quê? Não faz sentido!
- Caramba... É muita informação. Mas... Que criatura ela tinha? O que é isso?
- Não conhece nossos animais? – ele perguntou como se aquilo fosse um absurdo.
- Não... – respondi constrangida.
James segurou nas grades e fixou seus olhos nos meus.
- Eu não faço ideia do mundo em que você vivia antigamente, mas aqui dentro, terá que levar sua fantasia mais a sério. Os sonhos, as criaturas, coisas que você nunca imaginou existir... Tudo existe. Dependemos de tudo isso, e dependeremos ainda mais se você quiser sair desse inferno viva.
Minha mão apertava tão fortemente a grade, que eu nem a sentia mais. Com o coração batendo forte eu escutava tudo com muita atenção, mesmo sem entender. James virou-se e sentou-se no chão novamente, dessa vez olhando para a parede à sua frente, e continuou.
- Você entenderá...
E ele fechou os olhos.



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Mais novidades em breve! 

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